Ilídio Inácio começou a sua atividade ligada à rádio em Santarém, a fazer locução de anúncios numa feira popular e, aos domingos, no Jardim da República, com instalação de uma cabina sonora montada pelo capitão Jaime Varela Santos, e onde os passeantes iam “pedir discos” para oferecer a familiares, amigos e conquistas amorosas ainda secretas. Ilídio Inácio acompanhou os três primeiros anos de vida de Rádio Ribatejo como locutor, função repartida com Oliveira Mendes. Em 1953, receberia um convite para Rádio Clube do Norte, no Porto, pertença de Adolfo Quaresma, antigo militar de carreira e pouco depois falecido. Já repórter, locutor e produtor, a família Quaresma abriu-lhe as portas em termos de entrar na propriedade da estação. Para ele, um locutor tinha de ser “profissional fora de série, com bastante cultura e bem informado acerca dos problemas mundiais, além de conhecer a música pop e o desporto. No seu entender, deveria existir uma escola de rádio, para formar assistentes de produção, técnicos e locutores. A realidade do Porto era distinta de Lisboa, com esta cidade já servida por cursos do SNI e da Rádio Universidade.
Da união da rádio e do jornalismo, ele defenderia a linha direta entre Jornal de Notícias e a cabina da rádio, aludindo até a um projeto de ida das rádios para o andar superior do edifício do jornal. “Gostaria também de ver noticiários curtos que mantivessem o ouvinte atento durante todo o dia”. Além do Jornal de Notícias, Ilídio Inácio teve uma relação estreita com o Norte Desportivo, feito nas instalações de outro importante jornal da cidade, O Primeiro de Janeiro, na rua de Santa Catarina. No Porto, seria muito conhecido como produtor de teatro radiofónico, com Eça de Deus como autor, e de programas de relatos e entrevistas de futebol e de hóquei em patins, acompanhando o F. C. Porto internamente e em jogos internacionais. Ele foi entusiasta e precursor do trabalho de repórteres junto ao relvado com diversas informações do jogo e entrevistas aos jogadores. Durante anos, José Barroso foi o relatador oficial de Ilídio Inácio. Nas tardes e noites desportivas do produtor, juntaria os nomes de Desidério Amaro, com frases originais, sotaque e termos brasileiros usados, porque fora emigrante naquele país sul-americano, e Fernando Maciel, repórter junto ao relvado e lembrado pelo seu trabalho no jogo em que o jogador Pavão morreu em campo.
Ilídio Inácio preconizou a reunião dos Emissores do Norte Reunidos, então divididos por diversas estações, o que permitiria melhorar a qualidade dos programas. Na verdade, a Emissora Nacional compraria aquelas estações, que perderiam os nomes tradicionais, e Ilídio Inácio desenvolveu a sua atividade de produtor independente através da empresa Quadrante Norte. Antes desta, ele colaborara com a Sonarte. Empreendedor, Ilídio Inácio possuiu um estúdio particular onde trabalhava com o técnico Alberto Mendonça e dois locutores, na rua Júlio Dinis, 803, 1º esquerdo, então uma das avenidas novas do Porto, com lojas e cafés conceituados e zona de escritórios de empresas, depois continuada com a inauguração de um emblemático centro comercial da cidade e do país, o Brasília. Após a nacionalização da rádio em dezembro de 1975, ele forneceu serviços como produtor independente, com estúdio na Senhora da Hora (rua Ator Vasco Santana, 52), para Rádio Comercial Norte, extensão do antigo Rádio Clube Português no Porto, e para Rádio Renascença, incluindo relatos desportivos. O programa Resenha Desportiva chegou a ser o mais antigo na rádio portuguesa, com Aníbal Barroso como autor e responsável nestas produções de Ilídio Inácio. A sua sociedade de audiovisuais dissolver-se-ia em 2011.
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