De nome completo Armando Leonel Augusto Matos Cosme (1934- 2021), era uma das figuras mais importantes da rádio angolana no tempo colonial.
Natural de Guimarães, foi com a mãe e irmãos para Angola em 1950, chamados pelo pai. Fixou-se na cidade de Sá da Bandeira (atual Lubango) até 1975. Com curso de comércio e frequência em Letras, fez serviço militar obrigatório em 1955-1957. Antes, trabalhara como administrativo nos Serviços de Agricultura, o que lhe proporcionou o contacto com fazendeiros, tipo Henrique, a personagem central da sua trilogia de romances A Revolta, regressando à função após o serviço militar. Já colaborador literário de Rádio Clube da Huíla e do Jornal da Huila, foi convidado para trabalhar na rádio por César da Silveira, onde participou na produção de programas culturais e de teatro radiofónico, de que foi autor e com interpretação de gente da estação. Leonel Cosme foi contabilista, chefe da secretaria (serviço administrativo) e diretor executivo de Rádio Clube da Huíla. Até 1974, manteve-se na rádio, embora colaborasse desde 1973 no departamento de informação e cultura da Câmara Municipal, vínculo tornado definitivo após saída da rádio.
Leonel Cosme apoiara a candidatura de Humberto Delgado, tendo discursado no comício de 4 de junho de 1958 no Odéon Cineteatro (Sá da Bandeira), com o tema “Universidade para Angola”. Ele seria acusado de produzir um panfleto datilografado, que circulou no liceu da cidade, “Mocitários de Portugal”, dirigido a jovens, alguns deles em viagem promovida pela Mocidade Portuguesa (PIDE/DGS, SC, CI (2), 4134, NT7323, ANTT). A polícia política julgava que Cosme evidenciaria iguais sentimentos separatistas, por afirmações produzidas no I Encontro de Escritores de Angola, em Sá da Bandeira (janeiro de 1963). Leonel Cosme era um dos cidadãos a pugnar pelo estabelecimento da universidade em Sá da Bandeira, o que aconteceria pouco depois. Ele colaborou intensamente na imprensa, em O Lobito e Jornal da Huíla e foi redator-delegado em Sá da Bandeira do diário A Província de Angola.
Destacou-se na cultura da cidade, através do cinema, como membro fundador do Cineclube da Huíla, e da literatura, com a editora Imbondeiro e a Sociedade Cultural de Angola. Quando, depois de abril de 1974, o proprietário de Rádio Comercial de Angola, Eurico Mota Veiga, chamou Sebastião Coelho para a dirigir tecnicamente, Leonel Cosme ficou com a direção da filial em Sá da Bandeira.
O radialista-escritor regressou a Portugal em 1975, indo trabalhar para a rádio pública, mas voltou a Angola (1982-1987) como cooperante aplicado à formação administrativa e comprometido com o MPLA.
Depois, passou a residir definitivamente em Portugal e a fazer jornalismo na imprensa e na rádio. A partir de 1990, dedicou-se em exclusivo à atividade literária. Publicou as novelas Um Homem na Rua (1958) e A Dúvida (1961), os contos Quando a Tormenta Passar(1959) e Graciano (1960) e o livro de poemas Ecce Homo (1973). Na sua obra,
destaca-se a trilogia A Revolta (1963-1992), a refletir um lugar privilegiado de observador na história de Angola, indo da revolta à hora final, passando pela terra de promissão até ao final do colonialismo, numa perspetiva social e pedagógica. De entre outras obras, publicaria Agostinho Neto e o seu Tempo (2004) e Muitas São as Áfricas (2006). Leonel Cosme foi ainda autor do catálogo da primeira exposição de bibliografia angolana (Sá da Bandeira, 1962), com 700 títulos distribuídos por história e sociologia, etnografia e antropologia, literatura e ficção, viagens e narrativas e vários estudos.
A Imbondeiro, editora criada inicialmente por Garibaldino de Andrade, Leonel Cosme, Maurício Soares e Carlos Sanches (os dois últimos sairiam logo a seguir), durou quatro anos (1960-1963), tempo suficiente para lançar 68 cadernos com textos de contistas e poetas de língua portuguesa e publicar antologias da nova literatura angolana: Contos d’África (1961), agregando autores da angolanidade com naturais de Angola e de Portugal, Novos Contos d’África (1962), incluindo Alfredo Margarido, Pepetela e José Luandino Vieira, e Antologia Poética Angolana (1963), contemplando Agostinho Neto, Alda Lara e António Jacinto, entre outros. Uma nova antologia seria dedicada a grandes poetas do século XX, casos de Bertolt Brecht, Fernando Pessoa, Guillaume Apollinaire, Pablo Neruda, Rafael Alberti, Thomas Stearns Eliot e Vladimir Maiakovski. Já no começo de 1964, um caderno de Luandino Vieira, preso transferido para o campo de concentração do Tarrafal, não fora totalmente distribuído. José Luandino Vieira estava preso em Luanda, quando, em finais de 1962, a Imbondeiro publicou o seu conto Os Miúdos do Capitão Bento Abano, tema depois recuperado no romance Nosso Musseque (2003). Faleceu em 2021.
Autor: Rogério Santos, 2021.
Texto original, com imagens, em https://radio.hypotheses.org/4004
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