Após a independência do Brasil em 1822, Moçambique ficaria como uma das maiores colónias portuguesas. Situada na África oriental, com uma fronteira ligada à África do Sul, teve sempre muita influência deste vizinho.
A primeira estação de rádio em Moçambique, chamada Grémio dos Radiófilos da Colónia de Moçambique, começou a emitir em março de 1933 em Lourenço Marques (atual Maputo), mas suspendeu as emissões por algum tempo em 1934 por falta de dinheiro. Uma decisão inicial foi contratar um quarteto musical para preencher a programação. Em 1935, a orquestra deu lugar à transmissão de concertos musicais a partir de um salão de chá da cidade.
Por chegar à África do Sul e Rodésia (esta hoje dividida em Zâmbia e Zimbabwe), a rádio moçambicana abriu concurso para locutores a falar em português e em inglês, com as aberturas de “Boas noites, minhas senhoras e senhores. Aqui Lourenço Marques CR7AA, estação emissora do Grémio dos Radiófilos, trabalhando na frequência de 6.137 quilociclos, onda de quarenta e oito metros e oitenta e oito centímetros” e “Good evening, ladies and gentlemen. This is Lourenço Marques Radio”. Pela estação, passariam artistas, organizaram-se festas radiofónicas, abriram-se concursos infantis, retomou-se a orquestra privativa (quinteto e orquestra de salão) e com produção de
noticiários. O maestro Belo Marques, destacado pela Emissora Nacional a cujo quadro pertencia, foi para a colónia trabalhar para organizar os grupos musicais de Rádio Clube de Moçambique, dinamizou a vida musical da cidade, através dos Momentos Musicais no Teatro Gil Vicente, e recolheu música popular africana, exemplo pioneiro de recolha e útil para as composições que reuniu sob o nome de Fantasia Negra (1939-1942). A estação teve rubricas importantes de teatro radiofónico. Em 1938, a estação tinha 17 empregados europeus, a ilustrar a ideia de rádio orientada para a população branca (portuguesa e inglesa) e não para a africana. Só no final da década de 1950 e, em especial, durante a década de 1960, a estação começou a emitir nas línguas nacionais: ronga, sena, nhúngue, shangane, chuabo e macua. A guerra colonial acelerou o processo.
Em 1948, a rádio instalou-se em edifício de quatro andares, conhecido como Casa da Rádio, com escritórios no rés-do-chão e serviços de produção no primeiro e segundo andar, a que se juntavam o estúdio- auditório de 300 lugares e estúdios de programas, com sete cabinas de locução. Para os dois andares mais altos, a estação tinha discoteca (70 mil discos), arquivo musical e depósito de instrumentos musicais, salão de festas e gabinetes da direção. Então, perdia o nome Grémio de Radiófilos (1937) para Rádio Clube de Moçambique, a estender-se lentamente a todo o país. Além do centro emissor de Lourenço Marques, em ondas médias e curtas, a estação dispunha de emissores regionais de Porto Amélia, Nampula, Quelimane, Dondo, Tete, Vila Cabral (atual Lichinga), Inhambane e Vila Pery (atual Chimoio). Além do português (programa A), desde muito cedo começou a emitir programas em inglês, para captar publicidade da África do Sul, a que se juntaram o francês e as línguas nacionais do país. Em 1934, o sul-africano G. J. McHarry entrou como agente comercial na África do Sul. Após a II Guerra Mundial, com a reabertura ao mercado publicitário sul- africano, os períodos de emissão em língua inglesa e afrikaans alargaram-se.
Em fevereiro de 1947, a direção da estação decidiu criar a secção de língua inglesa e afrikaans independente da secção de língua portuguesa, o programa B, que adotaria o nome de LM Radio, em novembro de 1948, com locutores de língua inglesa. A estação teria a concorrência publicitária da Springbok Radio em 1950, do grupo SABC (South African Broadcasting Corporation). A LM Radio passou a emitir 24 horas diárias de emissão desde março de 1964. Em março de 1958, Rádio Clube de Moçambique introduziu uma emissão aos domingos em língua francesa, destinada ao Congo Belga e aos territórios coloniais franceses em África, visando mercados externos de publicidade
radiofónica. O programa C iniciou-se em dezembro de 1962, sem publicidade e predominantemente preenchido com rubricas de música clássica, para atingir um segmento de ouvintes de Lourenço Marques, passando para FM, em janeiro de 1963, ao passo que o programa D, comercial, a cobrir inicialmente a capital e uma área até 60-70 quilómetros, em janeiro de 1968. Em 1970, a estação emitia diariamente em estereofonia das 18:30 às 23:00 e aos sábados e domingos das 15:00 às 23:00. A estação faria ainda reportagens internacionais diretas, caso do campeonato de hóquei em patins de Montreux (Suíça), dada a qualidade dos jogadores moçambicanos na seleção portuguesa.
Apesar de instituição particular de caráter associativo, o seu alinhamento com o Estado levou Rádio Clube de Moçambique a assumir-se na prática como estação oficial e instrumento poderoso de propaganda política, mas com enorme poder de captar receitas externas de publicidade radiofónica. A norte da colónia, a Emissora do Aeroclube da Beira, de Jorge Jardim, e Rádio Clube de Moçambique estabeleceram um acordo de princípios, em janeiro de 1956. A partir de outubro de 1954, a cidade da Beira passou a contar com mais uma estação, a Rádio Pax, emissora católica criada em outubro de 1953. Já no final da década de 1960, foi criada a Voz de Moçambique, uma estação com estrito controlo político a veicular os ideais do colonialismo em época de aumento da guerra colonial ou de libertação.
Autor: Rogério Santos, 2021.
Texto original, com imagens, em https://radio.hypotheses.org/4042.
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