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Alfredo Alvela

Atualizado: 3 de fev. de 2022

Alfredo Alvela (1934-1994) foi locutor, realizador e repórter da rádio. A sua carreira começou em 1950 no Emissor Eletromecânico (Porto), de onde passou em 1956 para Rádio Clube Português, após concurso. Também se candidatou à Rádio Renascença, a funcionar na rua da Alegria, ficando em segundo lugar na classificação. A estação, logo depois, mudaria para o sétimo andar de edifício novo na rua Sá da Bandeira. Enquanto repórter, nos anos finais da década de 1950 e ao longo da década de 1960, Alfredo Alvela fez trabalhos sobre a pesca do bacalhau, inaugurações da ponte da Arrábida e de barragens do Douro Internacional, visitas ao Porto da rainha inglesa Isabel II e do presidente brasileiro Juscelino Kubitschek, campeonatos de hóquei em patins, voltas a Portugal em bicicleta, digressão do Orfeão Universitário do Porto aos Estados Unidos (1968), programas feitos em rádios de língua portuguesa nos Estados Unidos e cobriu o desastre ferroviário de Custóias, a cheia do rio Douro em 1962 e o naufrágio do navio Silver Valley e salvamento da tripulação.

Num dos episódios do programa de João Paulo Diniz No Ar, História da Rádio Em Portugal, seria recordado como tendo feito, entre outras reportagens, a de 25 de abril de 1974 no largo do Carmo, em Lisboa, quando Marcelo Caetano se rendeu aos militares revoltosos. Mas Alfredo Alvela fora também repórter a 26 de abril, junto à prisão de Caxias, e a 28 de abril, a acompanhar a viagem de comboio que trouxe Mário Soares do exílio para Lisboa. Às primeiras horas de 26 de abril de 1974, Alfredo Alvela entrou no forte de Caxias e recolheu os primeiros depoimentos dos presos políticos ali encarcerados. Nessa manhã, pelas 11 horas, Rádio Clube Português deu a ouvir aos portugueses, pela primeira vez, relatos de torturas, espancamentos, terror e morte, vividos naquela prisão política. Na reportagem de Caxias, Alfredo Alvela teve a preocupação de dizer constantemente as horas do acontecimento, pormenor quase insignificante, mas a dar conta da marcha do tempo.

Da reportagem sobre Mário Soares, conta-se a história da cassete. Na manhã de 28 de abril, chegava à redação de Rádio Clube Português a informação de que Mário Soares, regressado do exílio, viajava para Lisboa no Sud-Express. A Emissora Nacional enviara para Vilar Formoso o repórter Mário Meunier para entrevistar Soares durante a viagem. Conhecedor do percurso do comboio Sud Express e antigo profissional de Rádio Ribatejo (Santarém), estação do universo de Rádio Clube Português, Armando Pires apresentou um plano suscetível de antecipar a informação e bater a Emissora Nacional. Armando Pires partiu de automóvel com Alfredo Alvela (a quem tratava por Alfa), deixando-o no Entroncamento, última paragem do comboio antes de Lisboa, enquanto Rádio Clube Português dava instruções a Rádio Ribatejo para abrir a linha telefónica quando necessário para uma operação específica. O jornalista entrou no comboio (Entroncamento), entrevistou Soares e, conforme o combinado, atirou a Armando Pires, pela janela do comboio, à passagem pela estação de Santarém, uma cassete com a entrevista. Dez minutos depois, mesmo sem ser editada, a entrevista estava no ar. Deviam ser 12:30, meia hora antes da chegada do comboio a Lisboa. A entrevista realizada pela Emissora Nacional só foi para o ar muito tempo depois.

Antes, com Humberto Branco, de Rádio Clube Português, ele assinaria desde fevereiro de 1967 o programa diário Clube da Juventude (22:30-00:00), com a frase “Em cada jovem há um homem, em cada homem houve um jovem; mantém em ti o jovem” a acompanhar o indicativo do programa. Além do disco, a preocupação dos realizadores foi ter rubricas culturais de literatura, artes plásticas, filatelia, jazz, aviação, poesia, cultura física, música de concertos e participação de ouvintes através de cartas. Outra rubrica em que entrou foi, na segunda metade de 1967, Norte 67, com entrevistas a gente da cultura e da arte. Nas suas memórias escritas em blogue, o embaixador Francisco Seixas da Costa recorda que, com 18 anos, se apresentou nos estúdios do Porto, na rua de Ceuta, a pedir “emprego”, ao tempo em que fingia estudar engenharia. Alfredo Alvela abriu-lhe as portas do seu Clube da Juventude, onde realizou durante meses Tempo de Teatro, com textos do João Guedes e jingle com efeito de eco, feito no vão do elevador do prédio. O mesmo embaixador lembra-se que, por vezes, pela noite dentro, Rui de Melo lhe entregava a emissão de Onda Noturna, onde ele ficava a “pôr discos” e a dizer banalidades serenas, no tom que o programa exigia.

Alfredo Alvela foi um dos profissionais que se mudou do Porto para Lisboa (houve profissionais que fizeram o percurso inverso, como Rogério Leal, com toda a carreira ao serviço da Emissora Nacional, e Ilídio Inácio, este apenas partindo de Santarém, para os Emissores do Norte Reunidos). A sua entrada no programa PBX (dos Parodiantes de Lisboa) foi essencial para essa transferência. Por isso, Alfredo Alvela fez parte também do riso dos Parodiantes de Lisboa. Na rubrica “Rádio Crime”, ao lado de Rui Andrade (autor dos textos e com a personagem Ventoinha), de Callaty Santos (Buraquinho) e de José Andrade (inspetor Patilhas), desempenhou papéis vários. Também trabalhou em programas de Ruy Castelar, vivendo mesmo em sua casa, durante algum tempo.

Em julho de 1974, João Paulo Guerra e Alfredo Alvela embarcavam num voo da TAP para Bissau. Os dois, que tinham trabalhado no programa PBX, eram os únicos passageiros, aquele em reportagem para a Emissora Nacional, este para Rádio Clube Português. Em Bissau ajudaram-se no que foi possível e testemunharam acontecimentos como a greve geral de 3 de agosto de 1974, em Bissau, no aniversário do massacre de Pidjiguiti. João Paulo Guerra separou-se do colega porque conseguira o exclusivo de viajar até áreas da Guiné controladas pelo PAIGC, com Alfredo Alvela a despedir-se com a sentença: “amigo não empata amigo”. De maneira que beberam à despedida e o primeiro seguiu rumo a Canjambari. De outros trabalhos de Alfredo Alvela como repórter, realço o de 1975 em Helsínquia, quando fez a cobertura da Conferência de Segurança Europeia, integrando a comitiva do presidente da República, general Costa Gomes. No funeral do cantor José Afonso (fevereiro de 1987), ele fez uma reportagem fantástica.

Nos últimos anos de vida, Alfredo Alvela regressou ao Porto, à RDP-Antena 1, cidade onde faleceu a 1 de fevereiro de 1994, quando vivia em pensão na rua Galeria de Paris, paralela à rua Cândido dos Reis, local da sedve portuense da RDP. A repórter e depois professora universitária Ana Isabel Reis cruzar-se-ia com ele em 1988-1989, a indicar o tempo de volta ao Porto. Era diretor de informação José Gabriel Viegas e ele regressara ao Porto por intermédio de António Bondoso. As cerimónias fúnebres realizaram-se na Igreja da Trindade.

Autor: Rogério Santos, 2022

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